Pular para o conteúdo principal

Sobre Ler e Escrever


Todo esforço de uma palavra ou página está num livro. Desfolhamos vida, peles, membranas e camadas antigas.

Começar um livro é muito bom. Os primeiros parágrafos e páginas podem ser sempre mágicos.
Entrar pelas folhas é abrir uma nova porta ou janela e descortinar uma paisagem, um novo mundo desconhecido. Tudo parece novo, chão, ares, cheiros, sons, cenários.

Na textura do papel tateamos as páginas com nossos dedos e emoções, vamos decifrando as sensações e ideias de quem a escreveu, um processo que nos devora lentamente e muitas vezes nos engole vivos.

Certos livros são tão apaixonantes que devem ser lidos da forma mais confortável possível: no sofá, na cama, na rede. Com atenção total, desligando tudo em volta. Só assim conseguimos nos entregar e mergulhar sem pensar em um mundo do qual não queremos sair.

Até terminar um bom livro nos alegra, mesmo se o desejo era ainda ouvir suas palavras e personagens. O gosto e a saudade de ter terminado nos acompanham durante um tempo.
Ler é viver. Viver é ler.

Quando lemos escrevemos alguma coisa em nossas mentes e corações. E quando escrevemos também relemos algo, sinais do mundo que nos marcam e não nos largam. Com as palavras vamos decifrando pessoas, ambientes, barulhos e vozes que tentamos recriar como ficção.

Quando escrevemos a memória pode ser um cinema mágico - num tempo lento, brilhante e com cores muito vivas: podemos nos empolgar e nos concentrar sem cansaço durante horas ou dias debruçados sobre diálogos, pensamentos, descrições, devaneios, memórias.

Tudo por muito esforço e algumas poucas frases que nos satisfaçam, palavras, parágrafos e muitas emoções que encontram seu destino em poesia, conto, crônica ou um texto qualquer.

Escrevemos para vivenciar de novo o que vivemos mas queremos sentir de novo.
Escrevemos para procurar dentro de nós mesmos algo que não sabemos, não lembramos ou descobrimos. Nossos acontecimentos e tudo à volta, pessoas e coisas.

Quem escreveu e terminou de produzir algo deseja muito que outras pessoas leiam.
Escritores e leitores, estamos todos perdidos no mesmo misterioso universo de palavras e textos que nos cercam.

Escrever e Ler são dois lados que se complementam na mesma moeda.
É muito importante entender o segredo do que mantém este fogo da linguagem aceso por centenas de anos de escrita:

Não basta apenas ler e escrever:
Leia como quem Escreve.
Escreva como se estivesse Lendo.

@robertotostes

Postagens mais visitadas deste blog

As Pequenas Grandes Qualidades do Twitter

Tudo tem sua forma e tamanho e proporção, conforme o ângulo, o olhar e o ponto de vista. Vejo o  twitter como algo efêmero e surpreendente. Sempre gostei dele por ser pequeno e grande. Por ser rápido, e na maioria das vezes,  sincero. E mesmo nos seus limites de 140 caracteres, dá e sobra para expressar sentimentos de todos os tamanhos. Ele pode ser tipo um fogo de artifício no meio da noite.  Pode ser também um suspiro após um longo vazio ou tristeza. Pode ser como uma lágrima brotando de repente no canto do olho . Ou uma risada solta, do nada, espontânea.  Pode ser também um grande eco, quando é instantaneamente repetido e retuitado por centenas ou milhares e pessoas. Nem sempre pela mesma razão ou causa. Às vezes se fala besteira mas faz parte. Mas quem diz assina e não pode voltar atrás. Ele é sempre mobilizador e provocativo, viral, barulhento. Como se alguém dissesse naquele momento exatamente o que a gente gostaria de dizer. O Twitter acre

NARCISO E OS ESPELHOS SOCIAIS

Diz a lenda que Narciso era um jovem muito belo mas que não se sentia atraído por ninguém. Um dia ao debruçar-se sobre o lago apaixonou-se pela própria imagem. Não conseguiu mais parar de olhar seu reflexo e acabou morrendo assim. Em tempos de mídias sociais multiplicamos nossa imagem em sofisticados espelhos. Nossas fotos  povoam o facebook e instagram, nossos comentários e opiniões espalham-se pelo twitter e outros programas de mensagem instantâneas. Nossos diários ocupam blogs, qualquer vídeo pessoal pode chegar ao youtube ou vimeo e alcançar milhares ou milhões de pessoas. Já compartilhamos álbuns e imagens pessoais mais na web do que na vida real. Como se nos dividíssemos em múltiplas personalidades. O que sobra da identidade original de alguém que a torna pública e cuja vida digital ultrapassa a real? Quem domina o verdadeiro alter ego? Como concorrer com avatares de centenas ou milhares de amigos e relacionamentos que não param de crescer e multiplicar? Corremos o r

SOBRE ESCRITORES E BLOGUEIROS

O campo de batalha é o mesmo: palavras, ideias, textos, mensagens, divagações e a necessidade de se expressar. Um escritor e um blogueiro tem em comum o uso da palavra, para construir um texto, contar uma história ou uma opinião.  Existe sempre um público, maior ou menor, alguém que lê. Envolvido no mito da criação solitária, o escritor sempre teve o recurso do tempo, do isolamento. O blogueiro surgiu em tempos de web e se alimenta de sua rapidez e abrangência. Os tempos mudaram, escrever e aparecer agora se confundem. Todos precisam se expressar de alguma forma, marcar posição. As multidões se estendem on line e podemos ouvir o murmúrio de milhões de vozes. Entre o blogueiro e o escritor notamos as diferenças entre dois mundos que se cruzam, da neblina digital e social que vai invadindo nossas realidades. Escritores Sempre desejaram ser eternos, imortais . O escritor quer congelar um tempo, uma cena, uma época. Pensa longe. Quem escreve quer ficar longo t