Um pássaro em uma árvore próxima me olha como se desejasse
que eu pudesse tocar piano.
Bem que gostaria, amigo, mas só sei digitar ansiosamente algumas
palavras, tentando compor uma melodia qualquer sem desafinar.
Sim, as palavras têm um certo dom musical. Os dedos procuram
as letras e o barulho das
teclas cai como gotas sobre a tela. Conforme a velocidade, a intensidade e o
ritmo, a vibração muda, mas algo ali busca uma forma de expressão.
Paciente, a pequena ave ainda espera a música ou algo que entenda. Quem sabe um dia ela possa ouvir de
verdade as palavras?
Só posso pensar com humor neste inusitado encontro de
solidões. O pássaro na árvore e eu na
janela.
O sol vai baixando e do nada ele começa a cantar. Seu solo que
começo a escutar já se anuncia muito mais bonito e sincero que minhas palavras
soltas no ar.
Você bem merecia um maestro para desvendar sua sinfonia,
enquanto para mim basta saber que escrevi algo apenas por não saber tocar um
instrumento.
Agora só te escuto e deixo de lado as palavras que você me
inspirou. A música mexe com a minha memória e traz uma associação de imagens em
sequência. É assim que este pássaro me faz voar.
Meus dedos ainda pensam em teclar mas agora é só um desejo
distante de um dia aprender a tocar um piano
.
O pássaro meio que desaparece junto com seu canto e quando
vejo já se foi num voo para longe.
Ganhei um momento e o perdi agora há pouco. A árvore, o
passado, as nuvens e as palavras, tudo se dilui numa grande saudade.
@robertotostes