É, seu doutor. “Tá novinho em folha”. O Zé me diz isso três vezes por semana, nos dias que ele lava meu carro. E fala isso com uma sinceridade e um sorriso que acabo acreditando. Ele ganha a graninha extra dele e eu saio pro trabalho feliz no meu “carrinho novo”.
Parece uma troca justa. E ele não perde a oportunidade de fazer toda hora uma consulta. “Doutor, o senhor que sabe tudo de computador e internet, essas coisas, pode me dar mais uma ajuda?”. É isso, pois sou o “consultor web “ dele. Assim o Zé já tem currículo “on line”, possui perfil no Orkut, que não troca pelo Facebook, e ainda usa o MSN para paquerar mulheres pelo Brasil afora (pois um amigo dele toma conta de um ponto de web aqui perto e ele gasta as horas de folga lá batendo papo e marcando encontros).
“Então, doutor, vai começar o Big Brother e desta vez não quero ser mais enganado”. Ele explica que não quer mais discar mais aqueles 0800 porque descobriu que todo mundo paga uns centavos e a rede de televisão e as empresas de telefonia acabam faturando milhões com a ignorância do povo. Ele viu isso no Orkut onde disseram a ele que votar pela internet é grátis. Eu confirmo “é isso aí, basta ir lá no site do programa e clicar sem pagar nada”. Só não disse que pago telefone, acesso a internet e conserto de computador , energia elétrica, mas tudo bem, vamos lá.
Ele fica feliz, “é mesmo?” e esfrega as mãos dizendo, “agora é que vou votar mesmo, muitas vezes. Adoro votar no paredão”. Pergunto a ele se acredita mesmo que não tem manipulação. “Deve ter, né lá, diz ele, mas eu quero ajudar a eliminar aqueles que são picaretas demais. Pode ser homem ou mulher, esclarece, ele, mas eu percebo a malandragem.”
Em nenhum lugar do mundo o Big Brother faz tanto sucesso como no Brasil. Eu explico ao Zé que agora as coisas estão mudando, então a força da internet está com ele, com todos os Zés das esquinas que podem se informar e saber como no caso dos 0800 que estão sendo enganados. Você pode entrar no Orkut e espalhar isso para os seus amigos, digo a ele. Ele diz que quer mais é paquerar na rede, mas contou para todos os porteiros e amigos dessa jogada de voto pago.
Me animo um pouco e tento explicar a ele a lógica das mídias sociais. Você pode filmar ou fotografar uma coisa com teu celular e jogar na internet, explico. As pessoas podem espalhar isso e você acabar virando assunto no Jornal Nacional. Os olhos dele até brilham mas depois ele se retrai, envergonhado. “E eu quero lá essas coisas, tô tranquilo no meu canto”. Explico a ele que ninguém controla a internet, ao contrário das televisões, jornais, operadoras de telefone, empresas.
Falo para ele que até no quando acontece uma grande tragédia ou evento mundial, a web é usada para passar notícias, informações, mais rápida do que TV, rádio, etc. E principalmente pelo Twitter que espalha opiniões e notícias muito rápido para o mundo inteiro.
“Eu sei, doutor, você já tentou explicar esse tal de Twitter aí mas não entendi muito, não." Calma, digo eu, você é esperto, vai acabar entendendo. É como se fosse um monte de alto-falantes falando por aí, a mesma mensagem, só que pra muita gente ao mesmo tempo, frases curtas, comentários. Eu posso passar uma mensagem dessa, você também. Aí as coisas se espalham com uma rapidez incrível. Insisto com ele e digo “dá até pra paquerar pelo twitter”.
Aí percebo que os olhos deles se acendem, “então tenho que aprender, né doutor”. Pois é, Zé, elogio, você é um cara “conectado”, tem e-mail, MSN, tá no Orkut, sabe ver TV na web. Só falta perceber que você ainda pode ter mais poder do que imagina com isso tudo aí. A internet é sua, de todo mundo. Pode mostrar sua opinião, interagir mais com os outros. Fazer reclamações, mudar coisas de uma forma diferente.
Ele pára e pensa um pouco. Eu digo: Você é um cara bom de redes sociais, o futuro vai todo por aí, a geração nova, tudo conectado, celular, televisão. Você decide e não eles! É a rede social!
Ele ri sem graça e diz: Doutor,”rede boa mesmo é para tirar um sono bom ou pra aquelas coisas boas da vida que todo mundo sabe”. E encerra o papo, ali mesmo, pois tá na hora da resenha esportiva no rádio que ele não perde.
(Este texto foi escrito em 2011 mas continua valendo. Atualizei algumas coisas mas mantive o principal. Baseado em fatos e personagens fictícios)